Beleza se põe na mídia, não na mesa

Ela sai de casa para comprar o batom vermelho que viu na revista. A vendedora da loja que oferece o produto festeja a venda, afinal, não é todo dia que alguém compra um cosmético, cujo valor ultrapassa o salário de muitos trabalhadores.

O vestido que combina com o batom está numa outra loja não muito distante. O cartão deposita na conta do comerciante o dinheiro que pagaria a alimentação de muitos mendigos que dormirão de barriga vazia esta noite.

Agora as sandálias. Precisam ser as mais belas para combinar com a cor do esmalte. Os vários pares que estão guardados no closet não são lembrados. Outras lojas são visitadas. O salão de beleza foi o responsável por deixar o cabelo e a maquiagem completarem a produção. A última página da revista elogia um restaurante no centro da cidade. O carro comprado na última semana levou a linda mulher para um jantar especial com o marido. Ele está deslumbrante. A quantia gasta durante o dia não recebeu importância alguma. Todo gasto foi apenas um preço que trouxe ao momento, uma felicidade indescritível. O único problema é que a felicidade exibida, não era compartilhada com o interior da alma. Por dentro, uma história controversa. Nada tira a satisfação de tantos clicks. Amanhã, a cena estará estampada nas revistas.

Durante os últimos anos, a moda esteve mais presente na vida dos brasileiros. As lojas mais populares vendem imitações ou peças semelhantes ao que as modelos usam nas passarelas. Os periódicos entram em cena para mostrar o valor de se sentir bem, de exibir o corpo em belos trajes e lembrar como é bom cuidar de si.

A mídia impõe uma beleza que nem todos conseguem alcançar. Plásticas, lipoaspiração, botox, silicone e implantes são apenas alguns dos diversos caminhos tomados para chegar ao que a mídia mostra.

É importante cuidar de si, mas não ao extremo. As dívidas aumentam cada vez mais em função de gastos exorbitantes, que, ao invés de trazerem a felicidade, apenas definham as boas intenções que outrora tiveram seu frescor.